sábado, 17 de março de 2012

MÓDULO 4 - MEMORIAL

Tutora: Aurineide Maria Moreno Hauth

Grupo: Edna Cabral Sanches;
Fabiana Rodrigues dos Santos;
Helton Penachio;
Izabel Ferreira de Souza;
Leila Maria Magalhães da Silva Garcia;
Rosilene de Lima.


Módulo IV

CONTRIBUIÇÕES FREUDIANAS PARA A EDUCAÇÃO

O médico austríaco Sigmound Freud, assim como vários outros pensadores, contribuiu sobremaneira para o âmbito humano. Dedicou seus estudos, entre outras áreas, ao campo da neurologia e à aplicação da hipnose em pacientes histéricos, fatores que contribuíram para a construção de um campo até então inexistente, o da Psicanálise (RAFFAELLI, 2006).
No que tange a educação, pode-se dizer que não houve um estudo específico destinado a ela, entretanto, por meio de seus estudos acerca do desenvolvimento sexual infantil e do papel da linguagem, é perceptível sua contribuição no que concerne aos aspectos ou avanços educacionais.
Segundo Pedroza (2006, p.70), para esse grande pensador “[...] a sexualidade no homem não é apenas dada pelo seu desenvolvimento biológico, mas é formada, principalmente, por uma energia que ele chamou de libido, que é motor de busca de satisfação de nossos desejos”. Demonstrou em sua teoria que o impulso sexual já se manifesta no bebê, entretanto, é na idade adulta que a escolha sexual tende a ser definida. Dividiu a seqüênciação dos impulsos sexuais em cinco fases de desenvolvimento, a saber, oral, anal, fálica, latência e genital.
A revelação, por Freud, das fases de desenvolvimento dos impulsos sexuais, acima expostos, causou espanto, pois, até então, a criança era vista como um símbolo de pureza, um ser assexuado (BRAGA, 2003). Nesse período, final do século XX, de acordo com Kupfer (S/D), predominavam as explicações orgânicas e psiquiátricas para doenças como psicoses, histeria e esquizofrenias e pouco eram conhecidas as causas das mesmas. Freud queria descobrir as origens, principalmente da histeria, doença cujos sintomas eram vômitos, alucinações visuais, contrações, paralisias parciais, perturbação de visão, ataques nervosos e convulsões e pela qual a maioria dos pacientes o procurava.
Ao estudar, então, a histeria, avaliou que as idéias incompatíveis, expulsas pelo “eu” e tornada inócua por sua transformação somática, são quase sempre de natureza sexual. Sendo assim, na sexualidade poderia ou não haver algo de insuportável? Tinha essa dúvida, a qual o conduziu à educação, no sentido de verificar qual papel que exerce na condenação da sexualidade. Isso o levou à descoberta da sexualidade infantil (KUPFER, S/D).
A moral transmitida pela educação, segundo Kupfer, sugere aos sujeitos algumas noções, tais como pecado ou vergonha que devem ter diante das práticas sexuais. Dessa forma, avalia como não necessário o abuso excessivo da autoridade educacional acerca dessas questões.
Para compreender a sexualidade infantil, Freud realizou estudos sobre as perversões. Constatou que nos seres humanos estão presentes práticas de natureza perversa, que desaparecem por meio da repressão. A cada um dos aspectos perversos como exibicionismo e prazer de sucção (contato com o seio da mãe), entre outros, presentes na sexualidade infantil, Freud denomina “pulsões parciais”, visto que é dirigida ao próprio corpo da criança, que por sua vez não busca um outro corpo como ocorre no desenvolvimento da genitalidade (KUPFER, S/D).
Ainda de acordo com Kupfer, quando é dirigida a um alvo não-sexual, visando objetos socialmente valorizados, a pulsão é dita como sublimada. Trata-se de uma busca por um objeto, na qual pode “[...] haver uma dessexualização, pois a energia (libido) continua a ser sexual, mas o objeto não o é mais. Pode-se citar como exemplo a seguinte situação: diante de uma criança com uma acentuada manifestação da pulsão anal, um educador pode agir de modo a transferir a energia da libido da criança para a atividade de esculpir em argila, substituindo a manipulação das fezes. A antiga ânsia ainda se faz presente, só que de um modo mais brando, justificando a busca daquela atividade sublimada” (KUPFER, S/D, p.4).
Conforme Kupfer clarifica, as pulsões sexuais parciais e claramente perversas são fundamentais para a sublimação. A ação educativa ao “atacar” tais pulsões, pode provocar o seu fracasso. Assim, vale ressaltar a defesa de Freud que sem perversões não há sublimação, ao passo que sem a última não há cultura.
Nesse sentido, no que se refere à educação, resta “[...] dirigir de forma mais proveitosa a energia que move tais pulsões, transformando, por exemplo, a pulsão escópica em curiosidade intelectual, desempenhando papel muito importante no desenvolvimento do desejo de saber” (KUPFER, S/D, p.4).
O próprio Freud, de acordo com Kupfer, não tinha métodos voltados à educação, mas esperava que os educadores construíssem seus métodos e criassem modos de operação, ele acreditava que um professor que entendesse a psicanálise poderia agir melhor com seus alunos. Declarou que “[...] o educador é aquele que deve buscar, para seu educando, o justo equilíbrio entre o prazer individual e as necessidades sociais.” (KUPFER, S/D, p.5).
A autora coloca, ainda, que no período em que Freud formula as relações entre cultura e sublimação, tem um discurso considerado otimista. Freud era muito consultado a respeito da melhor maneira de se educar os filhos e, em suas respostas, recomendava que a criança recebesse educação sexual assim que demonstrasse interesse. Defendia que os pais e professores deveriam ter claros os conhecimentos acerca da existência da sexualidade infantil. Os pais não tinham competência para tratar desses assuntos, na opinião de Freud, pois foram crianças e, pela repressão que sofreram na infância, se esqueceram da sexualidade infantil.
Em suas pesquisas chamava a atenção de Freud o fato de que apesar do parelho psíquico sempre procurar o prazer, vários pacientes produziam sintomas desagradáveis que lhes causavam sofrimento e mesmo assim continuavam a reproduzir. Mais tarde Freud chegou à conclusão de que o desprazer não fazia parte das pulsões sexuais, mas que seria o resultado do embate entre as pulsões de autoconservação e as sexuais. Freud mudou de idéia mais uma vez em 1920 ao observar, finalmente uma classe de fenômenos que o princípio do desprazer pelo conflito não explica e através da observação da repetição de atos desagradáveis chegou à concepção da pulsão de morte, que caracteriza o desejo do indivíduo de voltar ao estado inanimado, inorgânico que possuía antes da vida. A partir desta constatação a idéia de dualidade pulsional se alterou e então Freud colocou as pulsões do eu e as pulsões sexuais como representantes da vida e a pulsão da morte como aquela que quer tirar a vida do homem (KUPFER, p. 56).
Diante da pulsão de morte e do inconsciente, estudiosos apontaram para a incompatibilidade entre educação e psicanálise na medida em que a primeira busca o bem-estar. Kupfer rebate dizendo que a repetição leva à morte e, portanto o educador deve estar sempre renovando seus métodos de maneira a privilegiar o conflito que é a fonte da vida.
Freud, segundo Kupfer, questionou suas próprias idéias sobre educação inspiradas pela psicanálise:

_O educador deve promover a sublimação, mas sublimação não se promove por ser inconsciente.
_O educador deve esclarecer as crianças a respeito da sexualidade, se bem que elas não darão ouvidos.
_O educador deve se reconciliar com a criança que há dentro dele, mas é uma pena que ele tenha se esquecido de como é essa criança. (KUPFER, S/D, p.6).

Por meio de tais questionamentos, Freud sofreu uma desilusão com a educação, tendo em vista que constatou que: “A Educação é uma profissão impossível”. A Psicanálise não serve como fundamento para a Pedagogia, assim como não serve como princípio organizador de uma metodologia educacional (KUPFER, S/D).
As teorias psicanalíticas podem colaborar no sentido de se conhecer melhor e compreender o outro e a habilidade ou falta de habilidade deste, assim, o professor deve buscar conhecimentos que lhe proporcionem lidar com situações conflituosas as quais o aluno certamente enfrentará em seu caminhar, pois um professor despreparado pode causar danos irreversíveis em seus alunos.
A educação deve ser libertadora, e não um instrumento de dominação e repressão. Esta é a proposta da psicanálise libertar o indivíduo de suas próprias prisões, ajudá-lo a entender-se.
Podemos afirmar que, basicamente, as contribuições de Freud à educação dizem respeito primeiramente à transmissão de conhecimento através dos Inconscientes. Devemos esclarecer que o Inconsciente é o conceito fundamental da psicanálise, sendo considerado por ele a terceira ferida narcísica da humanidade. Com esse conceito, podemos nos conceber também como sujeitos do desconhecimento, no qual algo sempre escapa à pretensão de controle consciente, como, por exemplo, de tudo o que aprendemos.
Outra referência de Freud à educação diz respeito à importância da relação professor-aluno, o que nos leva a pensar na questão da transferência sob o aspecto de um fenômeno que não se passa apenas entre paciente e terapeuta, mas que perpassa todas as relações humanas. Embora o que se passa na escola seja diferente, na psicanálise a transferência constitui seu próprio instrumento de trabalho.
Finalmente, uma terceira contribuição encontrada nos textos freudianos aponta para o papel da educação como auxiliar da sublimação sexual (já que seus argumentos afirmam que a curiosidade intelectual é derivada da curiosidade sexual). Quanto a essa última referência, devemos ter em mente que esse desvio pulsional necessário não deve ser excessivo e chegar a inibir o sujeito do desejo.
Tendo como base nossa reflexão acerca das contribuições Freudianas para o campo educacional e diante de tal constatação, há que se avaliar em que dimensões essa verdade se consubstanciou na era Pós-freudiana.
Ao analisarmos os estudos posteriores à Psicanálise, é possível a verificação de alguns teóricos interessados na relação da mesma com a Educação. Pode-se citar Oskar Pfister e Hans Zulliger com a tentativa da criação de uma disciplina, a Pedagogia Psicanalítica; Ana Freud com a transmissão da teoria psicanalítica a pais e professores; a transmissão da Psicanálise aos representantes da cultura interessados em ampliarem sua visão de mundo – que apesar de significativa não foi expressiva na educação; Karl Abraham, que formulou as fases do desenvolvimento afetivo-emocional da criança.
Catherine Millot, de acordo com Kupfer, é a psicanalista da contemporaneidade que melhor representa a posição de que não se pode, ou não é possível o casamento da Psicanálise com a Educação. A primeira aceita um debate com a cultura, mas nunca a sua aplicação. Somente é possível a aplicação clínica psicanalítica.
Millot dedicou seus estudos à relação da Psicanálise com a Educação, constatando que

Para que houvesse uma Educação Analítica, seria preciso que ela renunciasse àquilo que a fundamenta, que é a sua razão de ser. Precisaria deixar de ser Educação. Também não seria possível que o pedagogo ocupasse o lugar do psicanalista, exercendo uma influência analítica sobre a criança. Para isso teria que ter neutralidade e em Educação isso é impossível e até mesmo desaconselhável. (KUPFER, S/D, p. 12).


Tendo em vista os argumentos expostos acima, encerramos esse ensaio inferindo que: é possível que o educador possa se beneficiar do saber psicanalítico, tendo em vista que esse não abandone o seu papel, que não procure transferir tais conhecimentos ao saber pedagógico, isso seria um erro, um engano – é preciso buscar um equilíbrio ao se trabalhar com essas duas áreas de conhecimento, extremamente diferentes. A Psicanálise pode ser transmitida ao educador. O que não significa torná-lo um psicanalista, aplicando tais conhecimentos no trato com os alunos, longe disso, tais conhecimentos podem ser apropriados de forma a produzir efeitos na postura desse profissional enquanto educador.





Referências:

BRAGA, M. R. Conhecendo a sexualidade infantil. 2003. Disponível em: Acesso em: 12/11/2008.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Relações Interpessoais: Abordagem Psicológica. / PEDROZA, R. L. S. - Brasília: Universidade de Brasília, Centro de Educação a Distância, 2006.

BUSCH, Otto. Calendário Histórico - 1933: Grande queima de livros pelos nazistas. Disponível em: Acesso em: 10/11/2008.

KUPFER, M. C. Freud e a Educação. Disponível em: Acesso em: 12/11/2008.

RAFFAELLI, Rafael. Freud: questões epistemológicas. Cadernos de pesquisa interdisciplinar em Ciências Humanas. ISSN 1678-7730 nº 80. FPOLIS, abril de 2006.

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